27 de agosto de 2010

Sobre Hell

 Léo Ferré - Avec Le Temps

Há muitos anos eu não escrevo sobre Hell. O que me fez voltar a escrever sobre isso? Devaneios dentro de um frescão na volta pra casa. Li Hell quando tinha meus 16 anos e fiquei apaixonada por Lolita Pille, tanto que comprei logo seu segundo livro, Bubble Gum. Hell era uma constante nas minhas sessões de terapia. Apesar de ter um lifestyle um tanto quanto diferente de Hell, eu me identificava com ela. Durante tantas vezes comparei o vazio sentido por ela e sentido por mim. Era uma época difícil. Eramos semelhantes apesar de nossas diferenças, algo nela fazia eu me identificar.

É engraçado ver, com o passar do tempo, que aquela época de Hell, dormir ouvindo minha playlist depressiva e calmantes ficou há tanto tempo para trás. Eu era nova e não tinha forças pra ir em frente. Porque a grande verdade é que é muito mais fácil você parar no tempo, se prender na torre e colocar a trança para dentro. Era muito difícil para mim naquela época tentar ser feliz. Era mais fácil e mais inspirador ser miseravel. Eu e Hell estavamos acomodadas, não conseguiamos ver a felicidade que estava do nosso lado. Ao invés disso eu me deliciava masoquistamente em passar dia após dia com aquele vazio que dominava o peito e que me fazia sentar na cadeira, a hora que fosse, para escrever sobre ele. Até porque sempre tive uma convicção de que os grandes escritores eram sempre os depressivos, os depravados, os boêmios, os miseraveis.

Tanta coisa aconteceu desde aquele tão distante ano de 2004. Eu cresci, amadureci, fiz algumas bobagens, me comportei como Scarlett O'Hara, vi bons filmes, conheci boas bandas, evolui como pessoa, me tornei mais aberta, me tornei mais tradicional, passei a me autocriticar menos e passei a criticar mais os outros. Afinal, o inferno são os outros.

Mas Hell me trás boas lembranças, apesar de tudo. E graças a Lolita Pille e seus dois livros eu comecei a ler mais - mesmo que não tanto quanto deveria - conheci Avec Le Temps de Léo Ferré e principalmente... fui apresentada a Leonard Cohen. Não me lembro bem se há menção a ele ambos os livros, mas Leonard Cohen se tornou um dos meus orgulhos musicais. 

Durante seis meses Hell conseguiu viver de "amor, Evian e Marlboro Light" e achar que isso bastava. E isso basta.