Complexo de Fênix. Complexo de Lady Lazarous, Sylvia Plath.
Seja lá o que for, eu sempre volto. Renasço das cinzas dos meus erros, dos meus maus caminhos, dos desejos da carne, do que não era pra ser. Eu volto a vida. Outra vida. Porque renascer é morrer e nascer mais uma vez. E isso muda as coisas. Não se pode esperar que tudo será igual uma vez que tudo se foi e não vai mais voltar. Não se pode esperar que você seja igual uma vez que você se deixou mergulhar naquele lago com o sobretudo cheio de pedras no bolso e que acabou acordando na margem do rio se perguntando o que aconteceu que a trouxe de volta à vida.
Quando você está morrendo tudo é escuro. Só existe destruição. Devo dizer aos suicidas de primeira viagem, é doloroso. Muito. O vazio que sentimos por vezes parece mais vasto que todo o universo e nossas lágrimas tanto internas e externas parecem encher mares inteiros. Os sonhos se desmancham diante de nós, como frágeis girassóis. E nada parece fazer sentido. Então você morre. E tudo continua escuro.
Mas em algum momento, é quase como se você fosse abduzida, só que de volta. E quando você vê seu coração mais uma vez bate e você não quer mais pintá-lo de preto. Vermelho works just fine. Os esmaltes descascados incomodam. A sobrancelha por fazer incomoda. E você sente uma saudade. Um desejo de se redimir de seus pecados. Então você traça caminhos internos para entender o que você aprendeu nessa grande jornada de vida pós morte. E você não entende. Não mesmo. Você vê que a vida tá ai. "The sun is up, the sky is blue, it's beautiful and so are you", mas ainda assim você não vê o propósito. Você passa achar que é uma chance para remediar os seus erros. Mas não é. Uma chance para ser melhor. Não, não é.
É uma oportunidade para seguir em frente.
E seguir em frente é difícil. Ô, eu sei. Eu estou seguindo em frente. Seguir em frente significa lutar contra a morte todos os dias. Porque querer matar seus sonhos é muito fácil. Acreditam que eu desisti de escrever? Eu disse em alto e bom som "eu não quero mais ser uma escritora, acabou". É, verdade. E tenho testemunhas! Eu disse também que não acreditava mais em amor e nem que um dia eu teria uma família. Eu não só matei o que me fazia mal, mas eu ousei matar as coisas que me faziam continuar. E eu quase não voltei dessa morte.
Mas aqui estou eu. Sonhando novamente. Escrevendo novamente. Ouvindo Marcelo Camelo novamente. Acreditando. Ressuscitando pessoas. Mantendo outras mortas. Porque a gente tem que aprender que as vezes tem que ser pra sempre. Por mais que não pareça o suficiente.
Hoje eu senti aquele velho sentimento, aquele que os filmes do Cameron Crowe me fazem sentir sempre que os assisto, enquanto ouvia Tiny Dancer. Over and over. E por mais que algumas coisas me assustem nessa minha nova vida, eu sei que esse é só o período de adaptação. E que eventualmente elas vão se acertar.
Ontem eu ouvi uma das coisas mais lindas que alguém que já me disse: "Não mude isso em você." E o que seria isso? Ser guiada pelo meu coração e me deixar ser levada por ele. E eu não mudarei. Não isso.