16 de fevereiro de 2011

Vintage Effect

Ouvindo: Devendra Banhart


As coisas nunca estão cem por cento em nossas vida, sempre existem pendências, problemas a serem resolvidos, aquelas coisas que empurramos com a barriga e deixamos sempre para depois. Mas um dia eu fui capaz de aprender a não tão singela quanto eu pensava diferença entre estar feliz e ser feliz. A vida é bem simples, tal como um jogo de video game, assim que você o zera, você vai atrás de um novo jogo para zerar. Aqueles vestidos lindos que você tanto queria não parecem mais tão atraentes depois que saem da sacola e entram no seu armário. Eles se tornam algo que você possui e nós, seres humanos, por causa de nossa natureza megalomaníaca sempre queremos mais. Ser feliz é um estado além disso, além das conquistas que se tornam desmerecidas, assim como os problemas que continuam aparecendo ao longo do tempo. Ser feliz é um estado permanente. Nos estados passageiros se encontram ansiedade, euforia, raiva, tristeza, mágoa, entre outros (claro, para os evoluídos que não sentem a necessidade de permitir que uma mágoa por alguém dure vinte anos - mas essas pessoas seriam as que eu diria que estão no estado permanente de infelicidade, não se abrem ao perdão, ao brilho eterno de uma mente esquecida,  a chance de redenção, mas não quero perder meu tempo falando desse tipo de gente).

Eu comecei esse texto de forma pretenciosamente poética por algum motivo, o qual não saberei explicar. Talvez seja efeito da trilha sonora, de tudo o que tenho passado, ou talvez seja o Efeito do Vintage Effect. Quando eu caminho pelas ruas do Grajaú, a frase "se você morasse aqui, você estaria em casa agora" costuma aparecer na minha mente constantemente. As ruazinhas, as casinhas, as árvores cheias de lindas flores coloridas. Eu caminho pela rua Itabaiana cedo, cedo demais para mim, e abro os portões deste lugar, ainda, silencioso. Mas passada uma meia hora, agendas para cá, sucos para lá, brinquedos espalhados no chão, Scooby Doo e Jimmy Neutron na televisão, pão, Nescau, café-com-leite para os que preferem. Mais tarde, mais crianças, correria, carrinho pra cá, carrinho para lá, folhas com desenhos, pequenos seres todos rabiscados de canetinha. Eu me sento, exausta, as vezes admirando perdida em outra galáxia a comoção que coisinhas tão pequenas conseguem fazer. Um puxa a corda daqui, o outro puxa de lá, estranhamento, cara de raiva, um se enrola na corda, enrolando o outro junto, fazendo este rir. Ambos começam a rir e a se enrolarem na corda e você só consegue rir também. Como é contagiante essa coisa estranha chamada criança. As vezes tenho a sensação de que irei acordar de madrugada após um pesadelo gritando "BRENO!", as vezes parece que meu corpo vai entrar em colapso, mas a recompensa vem e nos faz esquecer do como eles nos enlouquecem as vezes. Quando fecho os olhos só lembro dos sorrisos que eles são capazes de dar, ou das histórias que as vezes parecem tão insignificantes para as pessoas grandes, mas que eles contam com tanta empolgação que eu penso que vale a pena gastar um minuto para escutá-los.

No fim das contas eu perdi o fio do raciocínio inicial, como faço quando me empolgo demais com algo. O que é o Vintage Effect exatamente? É algo similar as fotos da Cherry Blossom Girl, sem as bolsas e sapatos Miu Miu, com aparência de antigas, em tons pasteis. Enquanto eu ouço Devendra Banhart, e penso nas ruas arborizadas do Grajaú e no som das risadas daquelas crianças, me sinto presa num Vintage Effect, onde tudo é tão lindo, simples como a grama, tão perfeitos como origamis. Vintage Effect representa sonhos lúdicos, sonhos lúcidos. Em suas cores pastéis e seus primeiros raios de sol, ele representa simplesmente a felicidade.

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