20 de setembro de 2010

 Ouvindo: Album Talkie Walkie da banda Air

"Amo as pessoas. Todas elas. Amo-as, creio, como um colecionador de selos ama sua coleção. Cada história, cada incidente, cada fragmento de conversa é matéria-prima para mim. Meu amor não é impessoal, nem tampouco inteiramente subjetivo. Gostaria de ser qualquer um, aleijado, moribundo, puta, e depois retornar para escrever sobre os meus pensamentos, minhas emoções enquanto fui aquela pessoa. Mas não sou onisciente. Tenho de viver a minha vida, ela é a única que terei. E você não pode considerar a própria vida com curiosidade objetiva o tempo todo..."

Sylvia Plath


Em algum determinado momento de minha vida me deparei com Sylvia Plath. Provavelmente foi citada em um filme que eu tenha gostado muito e esse nome rondou minha mente. Uma poeta que tirou sua vida ainda jovem, aos 30 anos de idade. Durante muitas das minhas idas a Livraria da Travessa eu me vi com Redoma de Vidro nas mãos, interessada em levá-lo para casa, mas sempre o largava novamente na prateleira. Nunca li, apesar de ainda ter vontade. Mas ela ganhou meu respeito desde que li - e me apaixonei - por seu poema Lady Lazarus. Sylvia Plarth me passa intensidade em sua escrita. Não sei se a dor a deixava profunda ou se sua profundidade lhe trazia dor. Sempre gostei da mistura de ambas, talvez por isso o encanto com ela.

Então, hoje a noite em busca de citações, achei essa citação de Sylvia. Sinto a mesma ânsia. Amo as pessoas, suas histórias, sempre gostei de ouví-las (apesar de ser uma pessoa que gosta muito de falar), sempre gostei de conhecê-las. Acho que ficar preso a nossa verdade, a nossos pensamentos, a nossas histórias reduz a gama de possibilidades, principalmente para mim que sempre gostei de escrever. Cada pessoa passa por coisas diferentes, sente de maneira diferente. Me trás uma sensação meio Manon, mas não totalmente ao pé da letra "Odeio minha vida. Quero viver outras.".

Essa madrugada gelada de Setembro me lembra do meu ano de 2004, das minhas noites frias de Novembro, que sempre pareciam pedir por November Rain do Guns. Me lembra minha própria época depressiva, a época onde eu tanto escrevia sobre o vazio. Sobre Hell. Me assusto ao pensar que depois de tanto tempo Hell tem surgido frequentemente em minha mente. Deve ser só impressão. Sinto falta das quartas feiras em Ipanema indo para terapia, onde eu colocava meus demonios pra fora, onde aprendi a lidar com outros. Se bem que nunca fui bem em lidar com fantasmas, musas ou demonios - e olha que sou uma Warlock Demonology!
Todas as vezes que abro o Living In Bars me deparo com a foto de Scarlett Johansson e Bill Murray no Tokyo Hyatt no filme Encontros e Desencontros. Penso em que outra foto eu poderia colocar lá, algum filme que eu goste mais - não que eu desgoste dele! Mas, dai observo a foto. Ali estão Charlotte e Bob. Perdidos na tradução. Quantas vezes não dizia que sofria de Sindrome de Charlotte e ficava ouvindo Just Like Honey do Jesus and the Mary Chain? Mas acima de tudo isso, tirando do contexto do filme, apenas a foto. São duas pessoas tristes, desiludidas, entediadas, num bar, bebendo. Pra encontrar uma saida, precisando se encontrar, bebendo para esquecer as perguntas sem resposta. Vivendo de bar em bar, como dançando embreagadamente em mesas, cansados de serem não-legais e de correrem atrás da felicidade! Bill mentira, after all ... Não fica mais fácil. Posso colocar Jesse e Celine como exemplo disso. Jovens, cheios de sonhos e de esperanças no auge de seus 23 anos, com um mundo a sua frente, tantas coisas para fazerem, tantos planos, tantas possibilidades. Então você sonha que você tem 32 anos. Você acorda assustado e vê que você tem 23 anos, suspira aliviado. Então você acorda, e você tealmente tem 32 anos. E tudo aquilo que você achava que ia acontecer, aquelas coisas grandiosas, elas não acontecem.

Mas é melhor que minhas divagações sobre Jesse e Celine terminem por aqui. Eles dão pano para uma madrugada inteira e bem, esta já está quase no final. E hoje eu não posso permanecer acordada como fazia quando era mais nova e eu entoava No Rain do Blind Melon como um hino. Onde "tudo o que posso fazer é ler um livro para ficar acordada". Os anos passaram e eu não posso me dar ao luxo de curtir o vazio das madrugadas geladas. Até porque esta é a Cidade Maravilhosa. Sabe-se-lá se amanha não surge um lindo sol que ilumine as idéias frias. Um lado meu espera que não. Fazia tempo que não escrevia assim.

Afinal, além de uma manha nova, em algumas horas (só é amanha quando eu durmo) será Segunda feira. O dia em que as dietas começam, em que a gente volta a ir a academia, em que a gente escolhe um dos mil livros na prateleira para ler e coloca todas as pendências em dia! Segunda feira é o dia oficial da esperança. Se não por tudo isso, pelo menos que a semana passe logo e que chegue sexta. E que os velhos encontros adiados se realizem e que tudo volte a ser como era há dois anos atrás. Que a gente volte a ser feliz de verdade.

Um comentário:

  1. O texto tem tantas nuâncias que merece outro texto para ser um comentário "completo". Mas, como incompleto que sou, completo meu comentário: muito "que-penso-agora" no seu texto. Expontâneo. Isso é bom, mas certamente não escreveria como escreveu em uma quarta-feira...

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